O expresso da amizade
O EXPRESSO DA AMIZADE
Marcos Cárfora
“Tudo é no tempo de Deus”.
Para minha avó, Amélia, dona dos melhores carinhos e conselhos.
Estavam sentados em frente à televisão, acompanhando o noticiário local, Lucas e sua avó, Zélia.
- Eu acho essa iniciativa muito, muito bacana – refletiu a avó, enquanto fazia mais uma corrente no crochê.
- Realmente, é muito legal – consentiu o neto.
- Deveria haver mais pessoas assim, você não acha, meu menino?
“Meu menino...” – sorriu Lucas. Ele, com seus dezenove anos, ainda achava graça de ouvir a avó lhe chamar assim – Eu acho sim, minha avó.
- Como será que a gente consegue fazer parte disso?
- Não faço a menor ideia, minha avó. Deve ter algum local de inscrição, sei lá. Talvez seja uma ONG.
- É mesmo muito bacana...
O noticiário exibia uma notícia sobre o “expresso da amizade”. Era um ônibus simples, que encostava próximo às comunidades mais carentes e dele, desciam pessoas das mais variadas idades e formações. Havia médicos, professores, psicólogos fornecendo auxílio, alimentação, remédios e tratamentos. Mas o que mais se viam eram pessoas comuns, com sabedoria e palavras de auxílio e conforto àqueles que precisavam, muitas vezes, apenas de um ombro amigo.
Não davam entrevistas. Não permitiam registros de filmagens sensacionalistas. Quando a mídia procurava se aproximar, a própria comunidade pedia para que os repórteres se afastassem, a fim de não atrapalhar o trabalho dos voluntários. A publicidade que eles queriam não vinha das mídias. Partia das pessoas. O máximo que se conseguia eram relatos da própria população: cada um que recebia qualquer tipo de auxílio ganhava uma flor com um pequeno cartão com algum tipo de mensagem. Os repórteres conseguiam entrevistar um ou outro membro da comunidade e estes, muitas vezes com a voz embargada de emoção, relatavam a sensação de paz e alívio que o expresso da amizade deixava e que a mensagem que lhes fora entregue dizia exatamente o que eles precisavam ouvir. Não era apenas caridade. Era, por diversos momentos, uma demonstração de amizade que dava aos necessitados, força para continuar a lutar.
As crianças atendidas eram as mais procuradas pela reportagem, mas estas davam respostas vagas. “O que eles disseram para você?” – perguntavam – “que nós somos criaturas de Deus” – respondiam.
Também não avisavam quando e nem onde apareceriam. Surgiam assim, de repente, virando a esquina de uma rua qualquer em seu ônibus simples, sem quaisquer indicadores de quem eram. O próprio nome, “expresso da amizade”, surgiu ninguém sabe como. Entretanto, assim que estacionavam, juntavam muitas pessoas, alguns curiosos mas, em sua maioria, gente que só precisava de um pouco de atenção.
- Queria participar disso também.
- Ora, minha avó! A senhora também ajuda muita gente.
- Mas se é possível ajudar mais um pouquinho, que mal tem?
Zélia era daquelas pessoas solidárias. Ajudava quem podia, como podia. Dinheiro, não tinha. Era mulher de poucos recursos, professora aposentada. Então ajudava em trabalhos voluntários. Toda semana, ia à creche da comunidade e cozinhava uma sopa deliciosa. Ensinava as crianças mais velhas a cozinhar e estas, a ajudar a servir os menores. No dia das crianças, fazia saquinhos de doces e um bolo enorme para distribuir à criançada da vila. Era um evento! Adultos que outrora estiveram na fila para comer “o bolo do dia das crianças da dona Zélia” hoje viam seus filhos com a mesma empolgação. E aulas particulares, quantas ela deu às crianças que não acompanhavam o conteúdo na escola. E o fez sem paga alguma, apenas queria ver as pessoas felizes. As vizinhas lhe pediam conselhos. Até os considerados “maus elementos” pela sociedade a ela deviam respeito e gratidão. Prometiam-lhe defender a casa, mas nem precisava: era como um santuário na vila, a “casa da dona Zélia”.
Neste ambiente cresceu Lucas, morando com a avó desde os três anos, pois quis a vida não lhe dar o privilégio de ter os seus pais, que se foram no mesmo acidente fatal que ele, Lucas, havia milagrosamente sido salvo. Ajudava a avó também no que podia. Trabalhava e parte de sua renda ia para dentro da casa, ajudando no sustento e manutenção das contas. A avó ficava triste em precisar de ajuda, mas Lucas até se ofendia: “Não há valor que eu possa lhe dar que seja suficiente para demonstrar minha gratidão, minha avó” - dizia. E ela, sempre com a ternura que uma avó tem, somente respondia “Ah, meu menino!”.
As avós são mesmo criaturas impressionantes. Carregam em suas rugas, a maravilhosa – mas dura, diga-se de passagem – experiência de já terem sido mães. É como uma prova pela qual passam todos aqueles que têm filhos – e, obviamente, assumem esse papel. Zélia brincava, dizendo que a criação dos filhos é como um vestibular para o ensino superior da formação de seres humanos – os netos. Um filho lhe ensina paciência, compreensão, controle das emoções e, acima de tudo, a amar alguém acima de qualquer coisa ou pessoa. Assim, quando chega a vez dos netos, a então mãe se forma avó e está apta a transbordar a sabedoria de como se criar e educar uma outra pessoa. Dona Zélia era graduada em amor e pós-graduada em ternura.
Com a atenção voltada à televisão, dona Zélia e o neto assistiram ao final da reportagem.
- Que belo trabalho, eles fazem! É de mais gente assim que o mundo precisa.
- É mesmo, minha avó. Mas acontece que não dá para passar o dia todo praticando esse tipo de coisa. As pessoas têm que trabalhar, estudar, pensar no futuro. Todo mundo tem uma vida corrida.
- É bem verdade, meu menino. Mas nos enganamos quando achamos que fazer o bem é apenas doar comida, roupa, brinquedo. Na maior parte das vezes, a gente só tenta fazer o bem quando alguém lança uma campanha. Eu me lembro uma vez que você me levava ao médico quando viu um senhorzinho empurrando o carro, na tentativa de fazê-lo funcionar. Você me pediu licença e prontificou-se a empurrar o carro junto dele enquanto a mulher, também uma senhora, tentava fazer o carro pegar no tranco. Você se lembra de qual foi a sensação que teve quando o carro funcionou e os dois lhe agradeceram veementemente? Ora, o que foi que você doou naquele momento, além de um pouco de sua amizade a alguém que nem ao menos conhecia? Não levou mais que dois minutos.
- Pensando por esse lado...
- Não há dois lados, meu menino – sorriu Zélia – há apenas escolhas. Você escolhe o que fazer do seu tempo. Você poderia ter ignorado o esforço daquele senhor. Não era problema seu. Tínhamos horário no médico. Mas dois minutos não fez falta, não é?
Zélia esticou a mão a Lucas. Este a segurou com afeto.
-E quando você me ajuda na festinha das crianças? Leva bastante tempo. Um tempo que você dedica para alegrar não só as crianças, mas também a sua avó. Você sabe como eu gosto disso.
- Eu sei, eu também gosto – e riram.
- Bem, meu menino, vou me deitar.
Zélia levantou-se vagarosamente e deu um beijo carinhoso em seu neto. Ele já sabia qual era o próximo movimento da avó. Não havia um único dia em que ela não se lembrasse da filha que partiu cedo demais naquele acidente. Todas as noites, antes de se recolher, segurava um porta retratos com a foto da mãe de Lucas, beijava a fotografia, e depois a colocava no lugar de sempre - na estante, ao lado de um vaso com margaridas - as flores prediletas de dona Zélia. E assim o fez, mais uma vez. Deixou o crochê próximo ao quadro e se retirou.
- Boa noite, minha avó.
Lucas ficou pensando no que a avó acabara de lhe dizer. Lembrou que marcava seus compromissos do feriado de 12 de outubro para o período da tarde, porque reservava sua manhã do dia das crianças para ajudar na festa que Zélia preparava à comunidade. E gostava disso, sentia-se bem. Era um momento único, ver tantas pessoas felizes – especialmente dona Zélia. Emocionava-se todos os anos, ao ver a avó cortar o primeiro pedaço do maravilhoso bolo de chocolate, colocar em um pratinho colorido e o deixar ao lado da foto da filha, na estante – “ela sempre ganhava o primeiro pedaço” – dizia. Depois, repartia o enorme bolo em pedaços e distribuía à criançada.
Mas a efemeridade desta vida pregou mais uma peça em Lucas. Não havia chegado o dia das crianças quando o coração de dona Zélia resolveu pedir um descanso de uma vida que ela sempre qualificou como “privilegiada”. Partiu dormindo, da maneira que sempre quis, sem dor, “como um passarinho”, igual dizia.
Toda a comunidade sentiu o baque e o susto que uma partida súbita provoca. Na despedida de dona Zélia, sentimentos se confundiam, ora de tristeza, pela perda, ora de alegria, porque dela lembravam casos e momentos em que dedicou uma vida toda para o bem.
Os dias de Lucas sofreram uma reviravolta, quando percebeu que estava, de certo modo, só. A tristeza da ausência, ele compensava com trabalho, fazendo incessantes horas extras. Chegar em casa era deveras angustiante. Lá estavam as coisinhas da avó, as toalhinhas de crochê que ela fez para repousar os vasos nas mesas. Havia os bibelôs e os porta-retratos em cima da estante. Ele agora colocara uma foto da avó ao lado da foto da mãe. Até mantinha o vaso com margaridas sempre novas, mas estas pareciam sempre tristes.
Até preparar a comida se tornou um momento difícil, porque, ao fazer uso das panelas, lembrava-se dos maravilhosos pratos que a avó lhe preparava.
Certo sábado, ao pegar uma vasilha na parte de baixo da pia, viu a assadeira que a avó utilizava para fazer o bolo das crianças. O dia das crianças estava próximo, mas seria a primeira vez em décadas que a comunidade ficaria sem a festa que ela proporcionava. “Que pena!” – pensou – “não foi somente eu que fiquei órfão”.
Preparou a refeição, mas comeu sem muita empolgação. Sentou-se no sofá e ligou a televisão. Trocou de canal várias vezes. Propagandas, novelas, filmes sem expressão. Parou no telejornal e lá estava, novamente, o ônibus do expresso da alegria.
- Bem, eles pedem para que a gente não se aproxime tanto. Não gostam mesmo de publicidade. Vamos respeitar isso. Mas já dá para ver daqui que uma grande concentração de pessoas, de muitas idades, está em volta dos voluntários, recebendo tratamento médico, apoio psicológico, medicação, alimentos, brinquedos – informava a repórter, quando foi cortada pelo âncora sensacionalista:
- Mas será que esses “voluntários” têm autorização ou capacitação pra este tipo de atendimento?
“Vou te contar” – pensou Lucas – “se ninguém faz nada, falam que ninguém se ajuda. Se fazem algo, falam mal. Vai entender”.
A notícia continuava e Lucas, então, percebeu que conhecia o local da reportagem. Era próximo do seu trabalho, coisa de minutos.
Lembrou que a avó gostaria de participar deste movimento. Sentiu uma grande vontade de conhecer um pouco mais.
Pegou a chave do carro e se dirigiu ao local. Próximo de onde estava o ônibus, notou grande concentração de pessoas. A reportagem já havia se retirado. Ele estacionou a certa distância, e fez o resto do caminho a pé.
Em sua caminhada, passou por pessoas simples, que recebiam atendimento dos voluntários. Estes, vestidos de roupas claras, sem qualquer luxo. As mulheres não usavam joias ou maquiagem. Os homens, também. Todos com camisetas e calças simples, claras, na maioria brancas, que pareciam confortáveis.
Viu gente sendo examinada, gente sendo alimentada. Porém, o que mais viu, foi gente sendo amada, ouvida e respeitada. Coisas simples, que não exigem nada mais do que o tempo daqueles que estão dispostos a praticar a amizade.
“Minha avó ficaria maravilhada!”
Viu crianças correndo junto de outros voluntários, jogando bola. Outras voluntárias brincavam com algumas meninas, dando chá de mentira para bonecas de pano. Um senhorzinho tocava violão, cantando cantigas infantis que as crianças acompanhavam.
Viu também uma mulher, ensinando crianças a fazer crochê. Uma senhora com seus quarenta anos, cabelos e olhos negros, de face tranquila e sorriso aconchegante. Manuseava a agulha de crochê com desenvoltura, as crianças em volta, absortas no trabalho. Era uma pessoa do bem, isso era fácil de se ver. Seu sorriso lhe acalmava o coração, como antes lhe fazia ao sorrir sua avó. Chegou próximo a ela.
- Minha avó era mestre em crochê.
- Mas que legal! E você, aprendeu?
- Não, não... não levo jeito para coisas artesanais - disse Lucas. A mulher esboçou um sorriso.
- Faz uma voltinha assim, querida – ela disse, mostrando a uma das crianças como fazer a volta do ponto de crochê.
- Tudo se aprende – ela disse.
- Minha avó dizia isso.
- Coisas que os mais velhos falam. Mas é bem verdade. E você, o que faz aqui nesta tarde de sábado?
- Fiquei sabendo que vocês estavam aqui e quis saber um pouco mais sobre este trabalho que fazem. A minha avó, bem, ela se foi há alguns meses, mas ela ficou impressionada com essa ideia de trazer um ônibus cheio de voluntários para uma comunidade carente. Ela gostaria de ter participado.
- Sei...
- Bem, acredito que, se eu pudesse participar, talvez deixasse minha avó orgulhosa, onde quer que ela esteja. Afinal, ela era uma pessoa sempre disposta a ajudar. Queria poder estar neste ônibus, também.
A mulher o olhou afetuosamente. E lhe disse:
- O ônibus é apenas o transporte. Quem está dentro dele estaria fazendo o mesmo andando a pé, se assim quisesse.
- Bem, é verdade. Mas, eu não poderia participar do grupo? Eu, bem, poderia reservar umas horas do meu final de semana...
- Você não precisa deste ônibus para fazer o que está querendo. Como eu disse, é apenas o transporte. Que tal se você for o transporte?
- Como assim?
- Quem sabe, se você der início a uma corrente do bem, talvez carregue com você muitos outros que queiram fazer o mesmo.
Ele refletiu por alguns minutos. Por fim, perguntou:
- Fiquei sabendo que vocês não gostam de publicidade. Não seria interessante se as pessoas soubessem exatamente o tipo de trabalho que fazem? Isso não estimularia outros a fazerem o mesmo?
- Não lhe parece estranho que uma imagem na televisão e um texto emotivo sejam necessários para tocar um ser humano?
- Ajuda um bocado, não?
- Basta abrir os olhos, olhar com atenção... há pessoas em todos os lados precisando de uma palavra amiga. Quem carrega a bondade não precisa ser lembrado que ela existe. A televisão trata com sensacionalismo a tristeza e a dura vida das pessoas. Fazem quadros doando dinheiro, móveis, aparelhos. Ação que atinge uma família, apenas. Depois, soment a sensação de abandono retorna ao local. A televisão, nunca mais. Não, definitivamente, não é essa a mídia que precisamos.
E continuou:
- Você carrega consigo sementes de bondade. Por isso veio até aqui. Foram plantadas por alguém. Não é?
Lucas lembrou-se da avó. – Sim... – respondeu.
- Pois bem, não é necessário algo grande. É só dedicar um pouquinho do seu tempo.
- Ultimamente, tenho trabalhado demais...
A mulher parou o crochê. Olhou nos olhos de Lucas e segurou-lhe uma das mãos.
- Tudo é uma questão de escolha. Você escolhe o que fazer do seu tempo.
Ele a fitou por alguns momentos.
- Eu escolhi estar hoje ao lado dessas crianças. Eu estou fazendo um bem a elas e elas me fazem bem, também. É uma questão de reciprocidade: você recebe de volta aquilo que dá. Aqui, damos amor e o recebemos de volta. Estas crianças passarão a mesma atenção a outros, que repassarão a outros e outros. É fácil disseminar o bem. Tem feito algo ultimamente para tornar a vida de alguém mais confortável, nem que seja por um breve período? Aposto que você ajudava a sua avó em algumas tarefas.
- Bem, eu sempre procurei ajudar minha avó... ela fazia todos os anos, uma festinha no dia das crianças para as crianças da rua. Dava bolo, doce e bexigas pra garotada. Fazia pelo simples retorno do sorriso dos outros.. eu sempre ajudei. Ela fez essa festa por muito tempo, começou antes mesmo de eu nascer.
- O dia das crianças está chegando... – ela disse.
- Sim, mas não vou conseguir seguir a tradição da minha avó.
- Ah, mas que pena! Por quê?
- Bem, eu nem sei fazer bolo... eu ajudava, buscava os ingredientes, decorava a casa, fazia os saquinhos de doce, ajudava a distribuir. No ano passado, me vesti de palhaço e fiquei fazendo graça pra molecada.
- Deve ter sido muito legal...
- Foi, foi mesmo! Minha avó era a que mais ria das minhas palhaçadas!
- Aposto que você é muito engraçado!
- Bem, modéstia à parte...
- E por que você acha que a sua avó fazia essa festa?
- Eu acho que a fazia se sentir bem.
- Provavelmente. Mas você já parou para pensar quantas sementes de bondade ela plantava, cada vez que distribuía um pedaço de bolo? O que se espera em troca? Que essas crianças plantem também a bondade. Que levem adiante a ideia de amizade. Mas amizade verdadeira, solidariedade pura, sem querer agradar patrocinadores ou aumentar os níveis de audiência. Sem discursinhos de causar pena, mas com palavras amigas, diretas a quem precisa ouvir. Uma palavra doce, que conforta e uma palavra mais dura, para chamar a pessoa à realidade, quando necessário. Proporcionar momentos de alegria e criar, nas pessoas, a vontade de alegrar outras. Como a festinha do dia das crianças.
-Eu queria muito poder continuar com essa tradição da minha avó...
-Você deve continuar. Caso contrário, essa semente plantada há muitos anos não irá vingar. Por que você não conversa com os vizinhos? Certamente, conseguiria juntar muitos que admiravam esse trabalho. Pessoas que passaram a carregar a semente. Alguém para lhe ajudar com o bolo, com a distribuição dos doces...
- Pode ser...
- A gente não pode esperar que alguém sempre inicie uma campanha para praticarmos o bem, não é?
A mulher avaliou o crochê das meninas. Estavam muito bons. Carinhosamente, ela beijou cada uma e se despediu. Estava na hora do ônibus partir. Os voluntários despediam-se das pessoas entregando-lhes uma flor com um pequeno cartãozinho e iam entrando um a um, no ônibus.
- Para onde vocês vão, agora?
Ela olhou para cima, contemplou o céu por alguns instantes. Com um leve sorriso, respondeu:
- Só Deus é quem sabe.
A mulher acenou com a cabeça para Lucas e se dirigiu ao ônibus.
- Não posso ir junto? – perguntou.
- Ainda não – ela disse. Subiu o primeiro degrau. O motorista deu a partida. A mulher pôs a mão dentro de uma caixa de papelão que estava no painel do ônibus e de lá, tirou uma flor. Uma margarida. Ela então entregou a flor para Lucas.
- Passe a ideia do bem para frente. Você irá encontrar sempre alguém que mereça essa flor tanto quanto você.
- Uma margarida... – disse baixinho, Lucas.
- São as minhas prediletas – ela disse.
Subiu mais um degrau do ônibus. Por fim, virou-se:
- Não se esqueça de quem você é. Faça a festinha para as crianças. Alegre-as!
- Eu farei.
Subiu o último degrau. A porta do ônibus se fechou.
Ela então sorriu mais uma a ele. Um sorriso afetuoso, daqueles que damos quando nos lembramos de alguém com saudade, e entrou no ônibus.
Lucas olhou o cartãozinho que acompanhava a margarida. Nele, estava escrito:
“Neste ano, coloque dois pedaços de bolo na estante”.
Ela sentou-se à janela. Do lado de fora, com os olhos marejados de saudade, Lucas olhou para aquela senhora tão familiar e disse, baixinho:
- Adeus, minha avó.
Do lado de dentro, a mulher lhe respondeu:
- Até um dia, meu menino.
Março de 2015
Linda história meu amigo!!!
ResponderExcluirLinda história!
ResponderExcluirE que mensagem verdadeira!!!!!
Legal, amei essa história😍
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