O Cordel do Folclore
O CORDEL DO FOLCLORE
Marcos Cárfora
Essa
história que eu vou contar
Aconteceu
lá no Sertão
E
envolve duas famílias:
A
da Severina e do Sebastião.
Sebastião,
um nordestino
Sertanejo
trabalhador
Sonhava
todos os dias
Em
encontrar um novo amor.
E
Severina, veja só,
Mulher
bonita, mulher rendeira.
Mas
não se engane, fique sabendo
Que
ela é uma baita de uma encrenqueira.
Para
os homens, não dá confiança
Severina
não é brincadeira!
Certa
vez, Sebastião,
Depois
de um duro dia de labuta
Caminhava
para casa, cansado
A
dor nas pernas era bruta
Pensativo,
não percebeu
E
adentrou em um gruta.
“Onde
estou?” – pensou assustado
“Acho
que errei o caminho”
“Essa
gruta é muito escura”
“não
gosto de ficar sozinho”
Sebastião,
muito assustado
Ouviu
um barulho engraçado
“Quem
está aí?” – perguntou
Mas
ninguém lhe respondeu
‘Quem
está aí?”– perguntou de novo
E
ouviu de repente: “Sou eu!”
De
um canto escuro, surgiu então
De
um pé só, vindo a pular
Um
saci, que coisa estranha
“Acho
que vou desmaiar”
“Que
quer de mim?” – quis saber
Sebastião
numa tacada.
“A
sua ajuda” – disse o saci
“Para
arranjar uma namorada”.
“Quem
sou eu para lhe ajudar?”
Disse
o desanimado Sebastião:
“Se
nem eu mesmo tenho um amor
Para
me aquentar o coração...”
“Não
desanime” – disse o Saci
“Já
tenho um plano bolado”
“Vamos
formar uma equipe juntos”
“Oferecendo
namorados!”
“Boa
ideia, mas tem uma coisa”
“que
não podemos deixar de lado”
“Quem
vai namorar um saci perneta”
“e
um caboclo pé rapado?”
E
foram embora, desanimados.
Entra
em cena, Severina
Mulher
de fibra e valentona
Por
causa da fama de briguenta
Era
uma baita solteirona
Ouviu
um canto, ficou assustada
Pensou
“que música é essa que não para?”
Seguiu
o som, tomou um susto
Ao
ver na caatinga, a Iara
“Que
é isso?” – disse Severina
Ao
olhar para a Sereia
“Nunca
vi peixe fora d’água
Vivendo
no meio da areia”
“É
triste, eu sei bem”
“Mas
eu não posso fazer nada.”
“A
seca é feia no Sertão”
“não
chove há uma temporada”
“Mas
ouvi seu canto agora” -
Severina
lhe surpreendeu -
“Parecia
que estava triste
Com
uma música pra quem morreu”
“É
verdade, você acertou” -
Iara
tentou explicar:
“Estou
sozinha nesse mundo
ninguém
quer me namorar.”
Severina,
pessoa boa,
Logo
pensou em ajudar.
“Fique
tranquila” – disse ela -
“Um
namorado vou lhe arranjar.”
O
saci e Sebastião
Agora
juntos trabalhavam
Com
placas nas mãos, faziam piquete
“Queremos
namorar!” – eles gritavam.
A
multidão foi se aproximando
E
começaram os comentários
A
beata, indignada, gritava:
“Prendam
esses salafrários!”
A
fofoqueira, muito maldosa
Fofocava
com a vizinha
“quem
quer um caboclo sem dinheiro
E
um saci pernetinha?”
A
vizinha concordava:
“Só
se for uma doidinha!”
O
barulho estava grande
E
chamou muita atenção
Para
controlar o vuco-vuco
Chamaram
o camburão.
Welberson
Jones é um policial
Homem
forte da lei
Quantos
bandidos ele já prendeu
Isso
nem eu mesmo sei
“Que
bagunça é essa?” – gritou bem alto
O
pomposo oficial:
“Vamos
parar com essa baderna
Ou
todo mundo vai se dar mal!”
Nisso
entra Severina
Com
seu estilo valentão
“Que
acontece aqui?” – perguntou -
“Mas
que baita confusão!”
Sebastião
viu Severina.
Severina
viu Sebastião.
O
saci olhou para Iara...
Iara
nem lhe deu atenção....
“Não
sei o que acontece
E
nem mesmo quero saber!
Vou
acabar com essa bagunça
Todo
mundo vou prender!”
“Que
tem de mais, oficial?”
Entrou
na briga Severina:
“São
só dois caboclos bonitos
Desfilando
aqui na esquina”
“Não
se meta, minha senhora!”
O
oficial falou de vez -
“se
bancar a valentona
Passa
a noite no xadrez!”
E
Sebastião, nessa hora,
Sem
medo de entrar em cana,
Gritou
bem alto com o policial:
“Não
fale assim com essa dama!”
A
confusão foi aumentando,
Começou
a discussão.
No
meio da briga, apaixonados,
Estavam
Severina e Sebastião.
Aos
poucos, a ordem voltou.
A
multidão foi se dissipando.
E
Severina e Sebastião
Agora
estavam se amando.
O
saci ficou feliz
De
ver o sucesso do amigo
Olhou
para Iara, meio sem jeito
E
disse: “Namora comigo?”
Olhando
para ele, Iara lhe disse:
“preste
bastante atenção:
se
quiser namorar comigo,
vai
ter que pagar a pensão!
Casa,
comida, roupa lavada,
contas
pagas, uma empregada,
joias,
carros e viagens de avião!”
“Você
está louca?” – disse o saci -
“Você
não quer um namorado!
Se
quisesse, me aceitaria
Sem
um tostão, sem um trocado.
Só
uma pessoa com muito amor
Para
viver ao seu lado.”
“Tem
razão” – disse Iara -
“O
dinheiro não compra a felicidade.
Por
ser tão exigente,
Estou
solteira até essa idade.”
“Que
legal” – disse o saci -
“Então
não falta mais nada!”
“Caso
com você” – disse Iara:
“Acho
que estou apeixonada!”
Essa
foi a nossa história
Você
pode acreditar ou não.
É
tudo lenda, tudo folclore
Menos
a seca, porque não chove
Nas
terras do meu sertão.
Marcos Cárfora
Agosto de 2009 - Registrado na Fundação Biblioteca Nacional.
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