História de Pescador
Um menino do interior irá enfrentar um grande desafio ao encontrar, no rio em que costumava pescar, algo muito maior e mais impressionante do que um peixe.
HISTÓRIA DE
PESCADOR
Marcos Cárfora
Olá! Meu nome é Júlio. Julinho para a minha mãe e Julião para meus
amigos. Tenho nove anos e moro no Interior com meu papai e minha mamãe.
No Interior, tudo é muito diferente da cidade grande. Aqui, a gente não
tem tanta poluição nem tanto barulho. Sabe, um dia eu fui passear com meu pai
na cidade e fiquei horrorizado! Era carro pra tudo quanto é lado, buzinando e
roncando aqueles motores. E gente, então! Nossa, tem gente em todos os cantos,
andando apressada pra lá e pra cá, empurrando, esbarrando – e nem pedem
desculpas! – uma loucura! E as casas, que estranhas! Têm mais grades que a
cadeia da minha cidade! Parece até que as pessoas já nascem encarceradas!
Certo dia, meu pai acordou com uma gripe tão forte que seu nariz estava
mais entupido do que um dos túneis que eu vi no trânsito da cidade grande!
Naquele dia, ele não poderia ir pescar. E o pobre do meu pai, sempre
responsável, ficou muito preocupado.
Eu que sou, modéstia à parte, um filho muito bom, disse para o meu pai:
- Pode deixar papai, que eu pesco sozinho hoje!
- Mas meu filho, você vai sozinho?
- Sim, papai. Eu vou. Você fica em casa descansando, que eu trago todos
os peixes que puder até a hora de ir à escola.
E fui. Carreguei a vara, as iscas, os anzóis, os chumbinhos e me mandei
pro rio. Era bem cedinho, madrugada ainda, quando cheguei. Ainda estava escuro.
Joguei uns pedacinhos de pão no rio pra chamar os peixes e fui preparar
a minha vara.
Foi aí que uma coisa estranha aconteceu: ouvi um barulho esquisito,
tipo um rosnado e vi uma luz muito forte.
Olhei para os lados e nada vi. Ignorei o acontecido e joguei minha vara
no rio.
Agora é que a história começa a esquentar. Senti uma puxadinha de leve na linha... outra... mais uma...e, de repente, aconteceu: tomei um baita puxão e fui levado pro meio do rio com roupa e tudo!
Alguma coisa puxava de um lado para o outro! Senti como
se fosse igual aos atletas da televisão, que ficam esquiando. Eu fazia força
pra cá, e a coisa me arrastava pra lá - era uma briga sem tamanho!
Não contente em me arrastar pelo rio, a coisa decidiu me puxar pra
dentro da água. Ainda bem que eu sei nadar. Aliás, sou campeão da minha vila.
Ganho as competições desde que tinha seis meses de idade.
Prendi a respiração e fui parar debaixo da água. Mas ainda assim, não
conseguia ver a coisa que me puxava. Achei que era uma baleia, o que seria bem
estranho, porque eu estava pescando em um rio, e a gente sabe que baleia não
cabe no rio.
Foi então que reuni minhas forças – é, eu sou bem forte, já ganhei o
campeonato de levantamento de peso da minha vila, erguendo trezentos quilos de
uma só vez quando tinha sete anos – e resolvi dar um puxão na coisa.
E foi de uma só vez: dei-lhe um puxão que a coisa chegou a sair pra
fora da água, me carregando junto com ela. Caímos os dois, uns quinze
quilômetros para fora do rio. Ah, meu amigo, aí é que o negócio esquentou: a
coisa ficou brava, e eu finalmente pude ver o que era!
Minha nossa, só você vendo pra acreditar! Era um bicho de quatro
braços, duas antenas, uma cabeça bem grande com três olhos, dois na cara e um
na testa – e o da testa era azul, que nem daqueles artistas de cinema – tinha
uma cauda comprida de peixe e era peludo como um macaco. A cor dele era verde.
Não, acho que era roxo. Não, não, na verdade ele era vermelho. É, vermelho que
nem sangue. Tinha uns dentões de rato, enormes mesmo, e eu pude finalmente
perceber: a coisa era uma coisa de louco.
Mas, como eu sou muito corajoso, não fiquei com medo. Olhei bem nos
olhos da coisa, nos três que ela tinha, dei uma encarada; fiz minha pose
preferida de kung fu – já te falei que sou faixa preta? – e gritei em alto e
bom som:
- Tenho medo d’ocê não!
Sei lá o que aconteceu, mas achei que a coisa também não tinha medo de
mim. Soltou uma baforada fedorenta, com um bafo pior do que pum, e saiu um fogo
em minha direção. Ainda bem que eu sei ginástica olímpica, porque dei um salto
triplo mortal e agarrei no tronco da árvore. Foi um salto bom, de uns quinze
metros. Mas já dei saltos melhores. Ainda assim, a coisa ficou impressionada, e
falou de repente:
-Hã?! – e fez cara de bobo.
Aproveitei esse momento de bobice dela e tirei do meu bolso minha
marreta de quarenta quilos, que carrego pra emergências como essa, e dei-lhe
uma marretada nas fuças que a coisa chegou a ver estrelinhas. Deu três
piruetas, girou quatro vezes, botou a língua pra fora e pra dentro sete vezes,
bateu os pés no chão, girou a cauda três vezes no ar e eu pensei: “Êta bichinho
difícil de cair!”.
Mas caiu. Caiu feio. E, quando caiu, a coisa era tão pesada que a água todinha
do rio subiu uns oitenta metros pra depois cair no leito de novo.
Depois de uns dez minutos, a coisa acordou. Apontei meu dedo no nariz
dela e disse:
- Vá embora daqui, coisa de louco! Suma!
E a coisa entrou no meio do mato, resmungando baixinho, pegou uma nave
espacial cheia de luzinhas e se mandou pro céu.
Voltei à pescaria. Mas, olha só: aquele dia, não consegui pescar nada.
Só um peixinho de uns cinco centímetros. Dava nem cem gramas. Uma vergonha pro
Julião, filho do grande pescador José Bento, o melhor das minhas bandas. Mas eu
sou assim: quando eu pesco uns peixões, eu conto pra todo mundo. Quando eu pego
uns pequenininhos, eu conto também. Já chega dessa história de que pescador é
mentiroso.
05 de fevereiro de 2003
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional
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