Saxofante
Na savana, o rei Leão quer organizar uma apresentação musical com todos os animais. A girafa, grande cantora, irá assumir os vocais. A águia assumiria a bateria e o chimpanzé, a guitarra. Um elefante, muito entusiasmado, não consegue encontrar o seu espaço na banda, porque ainda não descobriu o seu talento. Uma história divertida que ensina que, com boa vontade e perseverança,é possível alcançar aquilo que se deseja.
SAXOFANTE
Marcos
Cárfora
O Sol nasceu forte, revelando a
paisagem da savana. Entusiasmada com a chegada de uma nova manhã, a girafa
pôs-se a cantarolar uma canção alegre que imediatamente chamou a atenção de
outros animais.
- Belíssima voz, senhora girafa. –
elogiou o leão.
- Oh! Obrigada, majestade! –
agradeceu a girafa, cheia de orgulho. Afinal de contas, receber um elogio do
rei dos animais era realmente coisa para se orgulhar. Bem, tratando-se do leão,
qualquer coisa deveria ser melhor do que uma mordida.
- Já pensou em seguir carreira
profissional?
- Quem? Eu? Ora, imagine... quem sou
eu?
- Pois deveria. Cantas muito bem.
- Seria uma ótima ideia, meu rei. –
concordou a girafa – Mas para isso, precisaria de um conjunto, uma banda para
me acompanhar.
- Acredito que posso dar um jeitinho.
– pensou alto o leão.
- E como seria? – indagou a girafa.
- Promoverei um concurso de bandas.
Farei um edital, convocando todos os animais que tenham vontade de tocar em um
conjunto. Escolheremos juntos os melhores e assim, teremos um grupo musical
para alegrar as tardes na savana.
- Oh! Parece-me uma ótima ideia.
- Obrigado, senhora girafa. Ótimas
ideias separam um grande administrador como eu do resto dos animais.
A girafa sorriu, mais para agradar o
felino do que por acreditar em sua fala.
- E quando será este edital,
majestade?
- Ainda hoje, cara girafa!
E deu meia volta, em direção às
gramíneas.
Mais tarde, o leão convocou todos os
animais para ouvir seu edital. Com um rugido de estremecer o chão, deu início à
reunião. Todos os animais estavam presentes.
- Muito bem – começou a Majestade –
chamei a todos para avisar que dei início ao concurso de bandas. A partir de
agora, escolherei os melhores de vocês para acompanhar a Senhora Girafa, que é
uma excepcional cantora.
- A girafa, cantora? – estranhou o
búfalo – Imagine só o tamanho do pedestal do microfone dela...
- Quem diria? – perguntou-se o
avestruz – Pescoço por pescoço, eu também me garanto na cantoria.
- Pois bem, Senhorita avestruz,
ponha-se a cantar para que possamos ouvi-la! – exigiu o leão.
- Tudo bem, lá vai. – Senhorita
avestruz soltou um ganido tão estridente, capaz de quebrar uma taça de cristal.
Os animais aplaudiram com fervor. Até a girafa gostou. A hiena, só deu risada.
- Pois bem, a Senhorita avestruz será
então o vocal de apoio da senhora Girafa. Precisamos agora de animais que
possam tocar algum instrumento.
- Eu sou capaz de fazer uma guitarra
com um pedaço de tronco velho. E os cipós de diferentes tamanhos serão as
cordas. – sugeriu o chimpanzé.
- Ótimo! Quem mais?
- Eu posso fazer uma bateria com
cascas de coco. Posso também utilizar galhos de acácia como baquetas e batucar
o ritmo – disse a águia – Com a minha agilidade, promoverei batidas rápidas e
contagiantes.
- Bom, muito bom! – O leão estava
empolgado.
- Eu cuido do figurino da banda.
Costurarei roupas para todos, utilizando folhas, cipós, e outras coisas.
Pequenas pedrinhas coloridas serão os enfeites e broches que darão todo o
brilho necessário para a banda – gritou a leopardo.
- A coisa está fluindo, a coisa está
fluindo! – O leão era só alegria.
- E se eu assoprar dentro desse
pedacinho de tronco? – perguntou a zebra – aposto que se eu fizer uns
buraquinhos nele, terei uma ótima flauta.
- Fantástico!
E assim, a banda foi se formando. Quando
a reunião estava quase no final, ouviu-se uma voz grave, reivindicando uma
posição:
- E eu? O que é que eu vou fazer?
Era o elefante.
- Você? – perguntou o leão – Bem,
você pode... você pode... sei lá, tocar algum instrumento de corda?
- Mas como? – indagou a girafa – Com
essas patas sem dedos, como irá apertar as cordas?
- É verdade – todos concordaram.
- Bem, talvez você possa ser o
dançarino da banda. Você sabe dançar?
- Claro que eu sei! – ofendeu-se o
elefante.
- Então nos mostre!
- É pra já! – com rodopios
desajeitados, o elefante promoveu alguns passos de dança muito esquisitos e, no
momento de terminar sua apresentação, no rodopio final, perdeu o equilíbrio e
caiu. Por muito pouco não amassou o leão que, agilmente, saltou para trás bem
na hora. A hiena disfarçou o riso.
- Não, não... é melhor você pensar em
outra coisa – disse o leão – Você canta?
- Claro. Observe.
E assustou a todos com a sua voz
terrível.
- Minha nossa! – espantou-se o leão.
- Cacetada! – assustou-se a girafa!
- Acho que fiquei surda! – reclamou a
zebra.
E a hiena riu de novo.
- Não, não... - disse novamente o
leão – Faça o seguinte: vá para casa e pense em alguma coisa, está bem? Volte
aqui amanhã e faremos um novo teste. E todos vocês, vão agora mesmo preparar
seus instrumentos e retornem aqui amanhã, na mesma hora.
E lá se foram todos, felizes com suas
tarefas. Menos o elefante, que saiu, digamos assim, com a pulga atrás do
orelhão.
- Caramba, o que eu vou fazer? Já
sei!
Começou a reunir uma porção de
quinquilharias, pedaços de tronco, cascas de frutas velhas, folhas secas, até
um cacto ele pegou. Foi montando e encaixando as coisas, tentando inventar um
instrumento. Até pedaço de pedra tinha. Minutos depois, olhou para sua invenção
que era muito peculiar e disse:
- Pronto! Já posso tocar!
Ficou olhando para aquilo tudo por
alguns momentos e chegou a conclusão que não sabia se deveria assoprar, batucar
ou dedilhar sua criação. Não tinha a menor ideia de como tocar e nem ao menos
sabia se seu invento era capaz de produzir algum som.
- Droga! Droga! Mil vezes droga!
- Mas o que lhe aflige tanto, meu
caro? – aproximou-se o abutre ao ver o elefante quase tendo um ataque
histérico.
- Essa porcaria de instrumento que eu
criei saiu com defeito!
- Também, o que você queria? –
perguntou o abutre – Nem dá pra saber ao certo o que é isso.
- Eu queria tocar na banda, mas não
tenho o menor talento para nada. Nem ao menos consigo definir o tipo de
instrumento que posso tocar.
- Ora, acalme-se e você descobrirá em
breve o que fazer. Às vezes, a solução este bem na frente do nosso nariz.
- Na frente do nosso nariz? É isso!
Abutre, você é um gênio!
- Gênio eu? Ué, não entendi...
- Amanhã você vai ver...
No outro dia, todos os animais
estavam novamente reunidos e com seus devidos instrumentos. O chimpanzé com a
guitarra, a águia com a bateria, o avestruz e a girafa a postos, prontas para
cantar. Em um dos cantos, a zebra exibia orgulhosa a sua flauta de tronco. E
todos muito bem vestidos, com a grife do Leopardo.
- Pois bem, chegou a hora! – gritou o
empolgado leão – Vamos ver o que vocês podem fazer!
E começaram uma bela canção. Até que
estavam muito afinadinhos e tudo mais. Porém, ao final da apresentação, todos
aplaudiram sem muito entusiasmo. Por fim, o leão disse:
- Está bacana, mas acho que falta
alguma coisa...
Foi então que chegou o elefante.
- Deixa comigo, majestade!
- Mas onde está o seu instrumento? –
perguntou o leão.
- Bem aqui comigo.
O elefante levantou a tromba e soprou
harmoniosamente. Todos se impressionaram com o maravilhoso som que ele fez.
- Que maravilha! – disse o leão.
- Fantástico! – emocionou-se a
girafa.
- Muito clássico! – observou a zebra.
- Quem diria? – perguntou-se o abutre
– Bem na frente do nariz dele...
E a hiena, como sempre, riu.
- Parabéns, senhor Elefante. Como
será o nome desse seu instrumento?
- Este é o meu saxofone, majestade. O
saxofone do elefante. O saxofante.
- Ótimo! Agora sim, todos juntos! –
ordenou o leão.
E fizeram um ótimo número, todos
muito empolgados e ainda mais afinados, graças ao mais novo instrumento, o saxofante.
Assim, por várias horas, a banda se
apresentou, alegrando a todos e tornando aquela uma das mais agradáveis tardes
de que já se tinha ouvido falar naquela savana.
Acompanhando a apresentação ao lado
do rei dos animais, a leoa perguntou:
- Como pode um animal grande e
desajeitado produzir tão belo e harmonioso som?
- Com o melhor de todos os
instrumentos – respondeu o leão, em sua sabedoria – A boa vontade.
Marcos Cárfora
21 de
dezembro de 2009- Registrado na Fundação Biblioteca Nacional
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