A GRAVATA DO PALHAÇO
Fazer rir é a profissão do palhaço Porpeta. À noite, no circo, realizando as maiores trapalhadas, provoca nas crianças, risos e alegria. Mas, fora do picadeiro, Porpeta não encontra a própria felicidade e se questiona como ser humano, sem saber ao certo qual a linha que separa o homem do palhaço. Nessa busca filosófica, ele encontra Gravatinha, um velho palhaço amigo de seu falecido pai, que irá lhe mostrar que a felicidade vem mesmo das menores coisas.
A GRAVATA DO PALHAÇO
Marcos Cárfora
I
O fim de tarde chegou tranquilo e
deixou o sol se por, mas não sem chamar a atenção.
Sentado à beira do morro mais alto da
cidade, o palhaço Porpeta encantou-se com o que ele mesmo chamou de “o mais
belo por de sol de todos os tempos”.
Acostumado a ficar longe de casa em
decorrência de todas as excursões que fazia acompanhando o Circo Sorriso,
Porpeta procurava disfarçar a saudade de sua terra e de sua gente, tomando emprestados
pequenos momentos de alegria, enquanto contemplava por de sóis, nascer de dias,
cantos de pássaros e diferentes luares.
Sua profissão ensinara-lhe a procurar
o que de mais belo e fantasioso existia em todas as coisas, para que estas lhe
proporcionassem a alegria necessária à criação de suas piadas. Por isso, se
olhasse à noite para a lua, imaginava que ela era feita de queijo. Porpeta, que
recebeu este apelido porque adorava as bolinhas de carne que sua mãe
preparava-lhe nos almoços de domingo, pensava em como seria bacana viver em um
local feito de queijo. Ninguém passaria fome. Se o estômago roncasse, bastava
arrancar um pedaço do chão e pronto. No café da manhã, era só ir até o quintal
e “colher” algumas fatias de mussarela da “horta”. O único problema seriam os
ratos. Imagine um planeta feito de queijo...
A noite chegou e o palhaço deixou o
morro, dirigindo-se ao circo. O espetáculo daquela noite começaria em breve e
centenas de crianças estariam lá para vê-lo. Ao menos, era por isso que Porpeta
torcia todas as noites. O público é, para um artista, como a asa que a lagarta
ganha e a transforma em borboleta. Não é possível voar sem ela. E, ultimamente,
a crianças já não apareciam com tanta frequência para os espetáculos. A
concorrência com as quinquilharias modernas muitas vezes rendeu-lhe
arquibancadas vazias e noites sem risadas e aplausos – as crianças preferem
ficar em casa com seus jogos eletrônicos e computadores.
“Mas não, não esta noite” – pensou
Porpeta – “teremos casa cheia, muitas crianças, música e algodão doce. Esta
será a mais gloriosa das minhas noites, serei o palhaço mais engraçado que esta
cidade já viu ou verá nos próximos cem anos!”
Atestando a sua crença, Porpeta
avistou a enorme fila que se formava em frente à bilheteria. Aquela seria uma
noite memorável. O espetáculo já iria começar.
A atmosfera circense é algo
surpreendente. A música de circo (que é sempre a mesma, mas ninguém enjoa), os
malabaristas, jogando seus malabares para cima e para o lado, os trapezistas,
com sua técnica impecável, que provoca gritos assustados a cada manobra para
depois arrancar suspiros e aplausos entusiasmados, a magia feita pelos mágicos,
que nós insistimos em garantir que são truques mesmo sem entender como foi
feito e todos os outros artistas, fazem das horas passadas embaixo da lona as
mais divertidas possíveis. Mas se tem uma coisa que todas as crianças querem
ver, é o palhaço.
Sabendo disso, Porpeta adentrou o
palco ao ouvir o apresentador chamar seu nome. Mal foi entrando e já simulou um
tropeço e uma queda, seguida de uma cambalhota tripla e uma cara de idiota. A
criançada se matou de rir, apontando para ele e cutucando seus pais, como se
dissessem “é o palhaço, pai, é o palhaço!”. Seguiu-se um espetáculo de vários
minutos de risadas, aplausos e brincadeiras. E nessa hora, Porpeta volta a ser
a criança. Para ele, não há outro lugar neste imenso mundo de lindos luares e
por-de-sóis mais iluminado do que ali. Foi mesmo uma noite memorável.
II
O espetáculo foi excelente e a
atuação de Porpeta, primorosa. As muitas crianças que foram ao circo aquela
noite não se esqueceriam de sua performance tão cedo.
Despedindo-se do público após uma
última cambalhota, Porpeta deixou o picadeiro sob aplausos frenéticos e gritos
eufóricos. Ele era bom e sabia disso.
No camarim, ainda tentado conter a
euforia, Porpeta olhou o retrato de seu pai, preso ao espelho. Durante anos e
anos a fio, o cargo que hoje Porpeta ocupava fora de seu pai, o grande palhaço
Chulé. Ainda podia se lembrar das incríveis palhaçadas que seu pai fazia e das
muitas gargalhadas que arrancava do público sempre que executava seu número.
Por detrás das cortinas, o pequeno Porpeta, ainda criança, observava o pai que
lhe dizia, todas as vezes que entrava no picadeiro: “Veja filho, que
privilégio”. O Porpeta achava engraçado como o pai sempre abria um grande
sorriso antes de entrar em cena.
As muitas atuações que presenciara do
pai lhe deram gabarito suficiente para ser aquele que preencheria o espaço
deixado pelo veterano palhaço Chulé. Os anos, que sorrateiramente vão passando,
foram aos poucos levando a agilidade e a saúde do velho palhaço até que, em uma
noite estrelada se sábado, Chulé fez sua última exibição. O grande coração que
tinha deixou de bater minutos após sair do picadeiro, deixando no mundo
gargalhadas órfãs e a única riqueza que tinha: seu filho, Porpeta.
Semanas antes, já sentindo o cansaço,
Chulé sentou Porpeta em seu colo, abriu um largo sorriso e lhe disse:
“Meu filho, a vida pode ser um
espetáculo todos os dias. Isso se você acreditar que todos os lugares onde
pisar são picadeiros e que mesmo os dias mais duros podem ser sessões
memoráveis. Existem plateias fáceis e plateias difíceis. Tudo o que precisamos
fazer é dar o melhor de nós mesmos e esperarmos pelas risadas no final. Por
isso meu filho, jamais se esqueça quem e o que você é.”
E Porpeta soube como honrar a memória
de seu pai. Era um ótimo palhaço, tão bom quanto Chulé. Estava no sangue,
correndo em sua veia circense.
Passou a mão sobre a foto, como se
pudesse acariciá-la. E sentiu-se só e triste. A euforia do espetáculo havia
acabado.
Repousou o chapéu sobre a mesa do
camarim e passou a remover a maquiagem. Era, para ele, a pior parte. Achava seu
rosto quando limpo, sem graça e desmotivado, como se a alegria que causava em
cena fosse artificial. Sem a maquiagem, não era Porpeta. Era alguém simples,
sem sal.
E suspirou, longa e pausadamente.
III
A segunda-feira chegou e com ela, a
folga de Porpeta.
Saiu à rua para resolver alguns
problemas e pagar algumas contas. Ia chutando as pedras pelo caminho,
desanimado. Naquela noite não haveria espetáculo, e ele não sabia se gostava ou
não disso.
Andando de cara limpa, não estranhava
o fato de ninguém reconhecê-lo. Na rua, era um cidadão normal. Imaginou se, de
repente, desse uma cambalhota no meio da calçada, assim do nada, e riu
baixinho, imaginando a cara das pessoas. Passados alguns segundos, achou a
ideia ridícula e prometeu jamais fazê-la. Não teria coragem. Com a maquiagem,
era outra coisa, poderia até abaixar as calças e mostrar a cueca, como
frequentemente fazia em seus espetáculos.
E por um momento, desejou ser somente
aquela pessoa maquiada, com uma bola vermelha no nariz, sem medo do ridículo,
sem vergonha de ser feliz.
Ao passar por uma vitrine de uma loja
de eletrônicos, coincidentemente viu um anúncio em uma televisão que estava à
venda. O comercial era do “Lua Cheia”, um circo concorrente, onde aparecia um
conhecido de Porpeta, o palhaço Gravatinha, velho amigo de seu pai. Porpeta
lembrou-se de sempre questionar o fato de que, apesar do nome, Gravatinha usar
uma gravata enorme, grande mesmo, que quase lhe cobria o rosto feliz e cansado,
marcado pelo tempo.
E lembrou-se também da amizade entre
Gravatinha e seu pai que, quando juntos, eram imbatíveis. Nas festas de
família, os dois amigos riam e divertiam a todos, mesmo usando jeans e camisetas ao invés de macacões
enormes, suspensórios e bolas nos narizes. Eram felizes.
Qual seria o segredo de tanta
felicidade? Porpeta era tão famoso quanto Gravatinha, mas escondia a tristeza
atrás da maquiagem. Por que não conseguia ser feliz a todo instante?
Contagiado pelo brilho nos olhos de
Gravatinha, Porpeta imaginou que seria uma boa ideia rever o amigo de seu pai.
Aproveitando a folga, tomou um ônibus e foi à cidade onde estava o circo Lua
Cheia. Haveria espetáculo aquela tarde e Porpeta adquiriu um ingresso.
Sentou-se em uma cadeira e sentiu-se estranho de estar em meio ao público e não
em ação.
Quando o palhaço Gravatinha foi
anunciado, Porpeta pôde ver uma das melhores atuações de um palhaço em toda a
sua vida. Por muitos momentos lembrou-se de seu pai e, várias vezes, foi
difícil conter a emoção. Aos poucos, Porpeta foi envolvendo-se no espetáculo e,
sem perceber, parecia mais uma das muitas crianças que riam e se divertiam com
aquele palhaço de gravata enorme, dando piruetas e fazendo malabarismos em cima
de um monociclo.
Terminado o espetáculo, Porpeta foi
ao camarim do palhaço Gravatinha. Pediu licença e entrou.
O velho palhaço olhou para ele e,
surpreendendo Porpeta, lhe disse:
- Você tem os olhos do seu pai.
Com um leve sorriso, Porpeta abaixou
a cabeça, emocionado por ter sido reconhecido. E Gravatinha concluiu:
- Mas não o mesmo sorriso. Venha, me
dê um abraço.
IV
O camarim do Gravatinha era muito
peculiar. Pequeno, quase individual, tinha nada mais que um móvel antigo, um
enorme espelho e muitas fotos presas a ele. Nas fotos, o velho palhaço em
várias fases de sua vida, sempre rodeado de crianças e amigos. O sorriso
estampado no rosto dava a impressão de que a vida de Gravatinha tinha sido
feita apenas por momentos felizes.
- Então, soube que você virou um
palhaço. Seguiu os caminhos de seu pai.
- Sim, ocupo o lugar dele desde
que... bem, você sabe.
- É... – fez uma pequena pausa –
Chulé era uma grande amigo e o melhor palhaço que já vi.
- Mas você é tão bom quanto ele.
Gravatinha agradeceu, sorrindo
carinhosamente.
- E você, meu jovem? Quero muito
vê-lo no picadeiro. Já aprendeu a cambalhota tripla que seu pai sempre dava?
- Sempre começo meu número com ela. –
repondeu Porpeta – Mas ainda não sei fazer aqueles malabarismos que vi você
fazendo há pouco.
- Ah! Mas eu te ensino. Você aprende
fácil.
Porpeta sorriu, desanimado.
Percebendo a angústia do jovem, Gravatinha perguntou:
- Você parece um pouco chateado. Algo
lhe incomoda?
- Na verdade, sim.
- Posso ajudar?
- Eu sempre me lembro de você e do
meu pai rindo, felizes e descontraídos. Vendo vocês, tinha a impressão de que a
vida era muito feliz.
- E a vida não é?
- Eu penso que não. Ainda não
consegui alcançar essa felicidade que vocês tinham e que, aparentemente, você
ainda tem.
- Meu jovem, ninguém é feliz cem por
cento do tempo.
- Mas você e o meu pai pareciam
felizes a maior parte dele.
- Então você já sabe o segredo.
- Eu? Não, não sei.
- Ora, se nem todos os momentos são
felizes, você precisa fazer com que eles sejam, ao menos, mais compensadores
que os tristes.
- Não entendo...
- É simples, garoto. Você tem duas
opções: se abater pelos momentos tristes ou se fortalecer com os fortes. Cabe a
você decidir qual caminho tomar.
- E se quase não houver momentos
felizes?
- Então é porque você tem fechado os
olhos para eles.
- Como assim? – perguntou Porpeta.
- Algumas vezes nos prendemos tanto
em procurar a felicidade que a deixamos escapar, mesmo quando ela passa bem
diante de nossos olhos.
- Mas como fazer para perceber esses
momentos felizes que você diz que eu não vejo?
- Menino, você quer uma fórmula
mágica para ser feliz. Isso não existe. Cada um pode e deve ser feliz,
simplesmente deixando de se lamentar pelo que não tem e passar a valorizar o
que possui. Deixe a felicidade entrar, não feche as portas a ela.
- O que eu queria saber, Gravatinha,
é o que lhe faz tão feliz?
O velho palhaço pensou por alguns
segundos. Por fim, disse:
- Essa gravata, por exemplo. – pegou
a enorme gravata que usava no espetáculo e mostrou ao Porpeta.
- Ora, é só uma gravata velha! –
zangou-se Porpeta.
- Tudo o que é velho tem muita
história para contar.
- Uma gravata? Como isso pode fazê-lo
feliz?
- Vê como você não percebe? É
simples. Quando estou com ela, estou feliz. É um dos momentos felizes de que
lhe falei.
- Mas é só uma gravata... – olhou a
gravata, como se quisesse ver através dela, procurando a resposta.
- Menino, menino... você vê apenas o
pedaço, não vê o todo.
- Se ainda fosse algo mais assim...
sei lá... alguma coisa de mais valor... mas, uma gravata? – Porpeta parecia
confuso.
- Se você abrir os olhos verá que
quase tudo pode gerar um momento feliz. A diferença é que algumas coisas geram
uma alegria permanente, enquanto outras, apenas uma alegria momentânea.
- Como assim?
- Por exemplo, suponhamos que agora
você recebesse uma grande quantia de dinheiro. Uma loteria, uma herança, não
importa.
- Isso seria bom...
- Claro que sim. Mas a felicidade
gerada por essa quantia pode ser uma felicidade momentânea. Imagine um
investimento errado ou mesmo uma mudança drástica no mercado econômico. Basta
isso e a sua alegria passará a ser uma tristeza. É o que acontece com alegrias
geradas por bens e dinheiro: elas podem ser tiradas de você.
Gravatinha se dirigiu ao espelho,
tirou uma das muitas fotos que estavam presas e entregou ao Porpeta.
Era a imagem de seu pai, o velho
palhaço Chulé, com o maior sorriso que Porpeta já havia visto. Por um momento,
Porpeta encheu-se de saudade do pai. Gravatinha quebrou o silêncio:
- Algumas coisas ninguém tira da
gente. Você as leva para sempre, até o seu último dia, dentro do coração. Essas
são as verdadeiras alegrias. As alegrias permanentes.
Porpeta se levantou e deu um abraço
no velho palhaço. Já saindo do camarim, virou-se para Gravatinha e perguntou:
- O que fazia meu pai sorrir desse
jeito?
Gravatinha, com um sorriso carinhoso,
respondeu:
- Essa foto foi tirada no dia em que
você nasceu.
V
Porpeta tomou o ônibus de volta. Ao
descer na cidade, decidiu caminhar pela praça central, tentando absorver o que
o Gravatinha havia lhe dito.
“Uma gravata” – pensou – “Essa é
boa...”
Pensando para entender os conselhos
do velho palhaço, Porpeta decidiu colocar em prática toda a filosofia do
Gravatinha. Passou perto de uma loja de fantasias. Hesitou por um momento,
porém entrou. A vendedora:
- Pois não?
- Quero uma gravata de palhaço. A
maior que tiver.
- Um momento, por favor.
A vendedora foi ao fundo da loja.
Passaram-se alguns minutos e ela voltou com uma gravata de palhaço, bem
vermelha, mas pequena, especialmente se comparada à do palhaço Gravatinha.
- Mas que gravata merrecas! Não tem
maior?
- Lamento senhor. Essa é a maior que
temos.
Pronto. A procura pelos momentos
felizes já começara triste. Se ele não via a possibilidade de ser feliz com uma
gravata gigante igual a do amigo, imagine com essa, pequenina.
“Tente ver o todo, não só o pedaço” –
pensou.
- Vou levar.
- Está bem. Vou embrulhar.
- Não precisa. Vou colocar agora
mesmo.
- O Senhor vai sair à rua... assim?
- Vou, ué. O que é que tem?
- Nada, não... – respondeu a
vendedora, com uma cara de “cada louco com sua mania”.
Porpeta pagou a conta e colocou a
gravatinha. A vendedora sorriu, achando graça. Porpeta retribuiu o sorriso e
saiu.
Andando na rua, não era possível
passar despercebido. Pessoas olhavam, disfarçavam o riso, crianças apontavam. E
Porpeta começou a achar graça disso. Avistou uma senhora que vinha em sua
direção, acompanhada de três crianças. Sem pensar duas vezes, simulou um
tropeção e deu uma cambalhota, como fazia no circo. Os pequeninos riram e a
mãe, mesmo parecendo assustada, sorriu ao passar por Porpeta, que acenou às
três crianças que ainda riam.
Gostou da sensação. Era a mesma que
sentia ao estar no picadeiro. Passou a fazer graça na rua, andando de forma
desengonçada, virando a gravata de ponta cabeça e dando cambalhotas. As reações
das pessoas variavam. Alguns olhavam com cara de espanto, outros o ignoravam.
Alguns até xingavam. Mas a maioria ria, se divertia com aquele sujeito careca
de gravata, fazendo graça aos transeuntes que passavam apressados na correria
diária. Qualquer coisa que quebre a rotina trás alegria. E Porpeta descobriu um
momento feliz. Estava mesmo diante dele o tempo todo. Quantas vezes pensou em
dar uma cambalhota na rua, mas não teve coragem de fazê-lo?
A
cada risada que tirava de alguém, uma sensação de alegria e felicidade
percorria-lhe o corpo e isso o fez entender as palavras do velho palhaço, ao
citar a gravata: “quando estou com ela, estou feliz”. Não era a gravata que o
fazia feliz. A gravata o lembrava de quem era e o que era: alguém que nasceu
para divertir os outros, para trazer alegria.
“Que poder tem uma gravata!” – pensou.
Passou o final da tarde divertindo as
pessoas. Mas, desta vez, sem maquiagem.
VI
Dias se foram, e Porpeta agora era
feliz. Passava as tardes, sem maquiagem, só com a gravata vermelha e roupas
normais, divertindo pessoas enfermas nos hospitais. Entrava nos quartos das
crianças internadas e fazia graça, levando alegria. A cada sorriso que promovia
a alguém, era como se um prêmio lhe havia sido dado. À noite,com a maquiagem de
palhaço, assumia seu papel no circo, como sempre fizera nos últimos anos.
Descobriu que cada qual pode encontrar a sua felicidade. Alguns podem
encontrá-la em uma boa refeição, em uma viagem ou ainda, em um novo carro. Para
Porpeta, a felicidade era fazer os outros felizes.
Olhou pela fresta da cortina e viu o
público eufórico, à sua espera. A casa estava cheia.
Antes de entrar no picadeiro, olhou
para o alto, como se pudesse ver o céu através da lona do circo.
“É mesmo um privilégio, pai”.
Entrou, ao ser anunciado. Antes da
primeira cambalhota, encheu-se de orgulho e alegria ao ver o garotinho, na
primeira fila, cutucando com euforia o adulto ao seu lado e gritando, feliz: “É
o palhaço, pai! É o palhaço!”
Marcos
Cárfora
Sapucaí
Mirim/Guarulhos – outubro de 2009.
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional
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