Doze minutos na praia


Este texto é dedicado a todos os pais e mães que já tiveram o privilégio de terem sido convidados pelos filhos a viver um momento de fantasia e imaginação.
Em direção à escola, em meio a um trânsito carregado e sol escaldante, Babi convida o pai a passar um tempo na praia. Uma bem pertinho: dentro de sua imaginação.


DOZE MINUTOS NA PRAIA
Marcos Cárfora

Meio-dia e meia. Babi saltou para dentro do carro com a pressa costumeira que o horário exigia. Ela tinha sete anos e já sabia que o pai saía do trabalho, engolia seu almoço em casa, levava Babi à escola para então voltar ao trabalho. Já ouvira o comentário que ele havia feito que a “hora do almoço” deveria se chamar a “hora do alvoroço”, tanta era a correria.

O calor de um dia de verão havia castigado o asfalto, e o carro parecia um forno de tão quente. Babi ajeitou-se no banco traseiro. Abriu sua mochila de rodinhas e tirou de dentro um livro, o qual fez de abanador.

Pelo retrovisor, o pai a viu se abanando.

- Calor, não é?
- Ô! E como! Para a escola, por favor.
- Sim, senhora! – o pai achou graça da pose de madame da filha. Deu a partida no automóvel e saíram.


Pouco mais de um minuto e já estavam em uma movimentada avenida. O trânsito, como sempre, carregado de automóveis e pessoas apressadas andando para lá e para cá, numa briga para ver quem chegava primeiro aos seus destinos. Apesar de já estar acostumada com a rotina amalucada da cidade, Babi procurava prestar atenção no que acontecia a sua volta. Os sons se misturavam, numa frenética orquestra de buzinas, passos, motores e vozes, em que o relógio era o maestro.

Não demorou muito e o carro de Babi, assim como muitos outros, parou devido ao pesado tráfego. O pai suspirou de desânimo e os sons de diferentes buzinas começaram a ecoar pela avenida, como se o barulho pudesse resolver a situação. O calor aumentava.

- Pai, falta muito pra gente chegar à praia?
- Héin?
- À praia, pai. É para lá que estamos indo.

- Ah, a praia... – respondeu o pai, percebendo a brincadeira da filha – Não falta mais nada. Já chegamos!
- Ufa! Ainda bem! Esse calor está me matando!
O trânsito deu uma desafogada e o carro se movimentou um pouco. Andaram alguns metros e pararam novamente. Babi olhou pela janela e observou a construção de um prédio, com operários carregando baldes de areia e cimento.
- Sabe o que eu vou fazer primeiro? Eu vou construir um enorme castelo de areia!
- Que legal, filha! Se você quiser, eu posso ajudar você.
- Claro, papai. Então, podemos fingir que eu era uma princesa e você vinha me salvar nas torres do nosso castelo.

O carro se movimentava lentamente. Motoristas mais apressados tentavam cortar o trânsito, arriscando manobras com os veículos. Neste momento, um avião que cruzava o céu chamou a atenção de Babi.
- Depois do castelo, a gente vai soltar uma pipa! Que tal? Ganhar o céu!
- Eu não sabia que você gostava de pipas, Babi.
- Na cidade eu não ligo, mas na praia eu gosto.
- Então, está bem...

A viagem parecia mais longa do que de costume. Pessoas apressadas passaram em frente ao carro de Babi, em passos tão rápidos que quase beiravam a corrida. Ela achou graça da pressa das pessoas.

- Tá com você!
- Quê?
- Ta com você! A gente está brincando de pega-pega!
- Ah, tá... Mas, por que está comigo?
- Porque eu acabei de te pegar! – ela deu um tapinha nas costas do pai.
- Então, corre que agora eu vou te pegar!
A menina riu gostoso. Depois, reparou em um gari que recolhia latas vazias jogadas pelo chão da rua.
- Sabe o que vamos fazer agora? Vamos recolher conchinhas na areia, perto do mar.
- Legal, minha filha. Quem achar a concha maior, ganha um prêmio.
- Oba! Mas você já perdeu! Olha o tamanho dessa que eu acabei de encontrar!
- Minha nossa! Esta é gigante!
- É linda, não é? Dá até pra ouvir o mar dentro dela!

Próximo à escola, o carro parou ao lado de um prédio enorme, recoberto de vidros azuis. Babi pôde ver o reflexo do carro nos vidros do prédio. Sorriu.
- Chegou a hora, papai! É hora da gente dar um mergulho! O mar está tão bonito hoje! Olha só como está azulzinho!
- Então, filha, quem chegar por último é a mulher do sapo!
Ambos riram.
- Olha, pai! Olha a onda!
- IUUUUPII! Você já está nadando como uma sereia, héin?

Doze minutos se passaram e finalmente, chegaram ao Colégio.
Desceram do carro e pararam em frente ao portão da Escola. Carinhosamente, Babi deu um beijo na bochecha de seu pai. Ele retribuiu com um amável sorriso.
- Quando você vier me buscar, podemos ir à praia de novo? Eu gosto muito de ver a lua refletindo no mar à noite.
- Todas as vezes que você quiser, minha filha... todas as vezes.
E ela entrou na escola, arrastando alegremente sua mochila de rodinhas.



 Março de 2010.

Comentários

Postagens mais visitadas